Manoel da Nóbrega e José de Anchieta na História do Brasil

Pintura de Benedito Calixto, que retrata o momento quando José de Anchieta escrevia o o Poema “Da Virgem Santa Maria Mãe de Deus”, enquanto era refém dos índios tamoios. Imagem: Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto.

Ao comemorarmos a fundação de São Paulo, ocorrida em 25 de janeiro de 1554, é importante lembrar que a criação da povoação que lhe daria origem foi obra do Padre Manoel da Nóbrega, que determinou a instalação do colégio jesuíta no Planalto de Piratininga, e do Padre José de Anchieta, que o consolidou.

 Esses dois religiosos tiveram, no entanto, papéis mais amplos e importantes naquele início da História do Brasil.

 Manoel da Nóbrega, à frente de seis jesuítas, veio com Tomé de Souza para organização do Governo-Geral em 1549.

Percorreu a costa do Brasil, visitando as missões religiosas e, em 1550, fundou o Colégio Jesuíta de Olinda, propugnando desde cedo pelo bom trato aos indígenas.

Tornado Provincial dos Jesuítas do Brasil, em 1553, embarcou na expedição de Mem de Sá que, em 1559, veio ao Rio de Janeiro atacar os franceses, conseguindo mobilizar em São Vicente um bergantim e várias canoas de guerra para reforçar a expedição do governador-geral.

Junto com o seu dedicado auxiliar José de Anchieta, em 1563, conseguiu pacificar os tamoios de Piratininga e São Vicente, um importante sucesso para a segurança das novas povoações que haviam acabado de se fundar.

Não foi sem razão, portanto, que Mem de Sá, ao despachar seu sobrinho Estácio de Sá à frente de uma esquadra para expulsar os franceses do Rio de Janeiro, recomendou-lhe que ouvisse os conselhos de Manoel da Nóbrega.

Com efeito, logo que chegou à Baía de Guanabara, em fevereiro de 1564, Estácio de Sá enviou mensagem a São Vicente pedindo que Manoel da Nóbrega viesse ao seu encontro, o que ele fez, vindo acompanhado de José de Anchieta.

Depois de correrem grandes riscos para conseguirem se reunir a Estácio de Sá na Guanabara em mãos francesas, avaliaram a situação e seguiram juntos para São Vicente para conseguirem recursos para a ousada empreitada.

Em São Vicente, mais uma vez, Nóbrega teve papel decisivo na mobilização, animando os colonos a se juntarem à expedição de Estácio de Sá para fundar a nova povoação e conseguindo reunir homens e meios para a luta que viria.

Depois da vitória sobre os franceses e consolidada a cidade, Nobrega foi colocado à frente do Colégio Jesuíta do Rio de Janeiro. Pela participação direta em acontecimentos decisivos e o seu consciencioso registro na forma de cartas e produções literárias, Manoel da Nóbrega deixou uma contribuição importante para a historiografia brasileira.

Por sua vez, José de Anchieta veio ao Brasil em 1553, com o segundo governador-geral, logo se transferindo para São Vicente. Pouco tempo depois, concluiria uma obra de grande importância para a catequese no Brasil, “Arte da Gramática da Língua mais falada na Costa do Brasil”, logo adotada pelos jesuítas. A atuação de Anchieta, pelo trabalho como educador, perseverança diante das dificuldades e coragem nos momentos de perigo, foi determinante para a  consolidação do Colégio Jesuíta do Planalto de Piratininga, cuja primeira missa, oficiada no dia do Apóstolo Paulo em 1554, motivou o batismo da povoação que ali não mais parou de crescer e prosperar: São Paulo.

Anchieta, demonstrou, em diferentes oportunidades, grande desapego à própria segurança no desenvolvimento de sua ação missionária.

Participou, no início de 1561, como intérprete, da arriscada expedição determinada por Mem de Sá para combater inimigos que ameaçavam São Paulo de Piratininga. Durante a batalha em defesa da povoação travada em julho de 1562, ele estava presente, atendendo feridos e protegendo mulheres e crianças abrigadas na igreja e na casa do Colégio.

Entre maio e outubro de 1563, ele permaneceu como refém dos tamoios durante a negociação de trégua entabulada por Manoel da Nóbrega, vivendo momentos de grande tensão em que esteve prestes a ser executado.

E estava junto com Estácio de Sá na fundação da vila de São Sebastião do Rio de Janeiro, indo, pouco depois, a Salvador falar pessoalmente a Mem de Sá da situação e da urgência do socorro aos defensores.

Da atuação de Anchieta, a memória iconográfica brasileira guardou, em distintas obras, o seu momento de maior sublimação, quando refém dos tamoios em Iperoig, escreveu na areia o Poema “Da Virgem Santa Maria Mãe de Deus”, que depois transcreveu em 4.172 versos em latim.

A atuação de Manoel da Nóbrega e de José de Anchieta comprova que o Brasil nasceu sob o signo da cruz e da espada, da fé e da coragem.