A Segunda Batalha de Guararapes

19 de fevereiro de 1649

Pintura da Segunda Batalha de Guararapes, de autoria desconhecida. No lado esquerdo da pintura aparecem Francisco Barreto de Menezes, João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros e Henrique Dias.

   No dia 18 de fevereiro de 1649, o Coronel holandês Brinc deixou Recife e, à frente de 5.000 homens organizados em 5 regimentos, mais auxiliares negros e tapuias, marchou para os Montes Guararapes. No dia seguinte, postou-se em formação no boqueirão dos Guararapes, pretendendo atrair o exército patriota ao combate. Os brasílicos, alertados da saída holandesa desde a véspera, haviam deixado o Arraial Novo e, em número de 2.600, chegaram aos Guararapes no final da tarde do mesmo dia, permanecendo dispersos nas matas que circundavam os morros. Já encontraram o exército holandês bem desenvolvido no terreno, com posições bem organizadas nas alturas dos montes, com artilharia distribuída pelos regimentos e com seu principal dispositivo organizado no boqueirão. O Mestre de Campo General Barreto de Menezes avaliou cuidadosamente s situação e, ouvidos seus principais mestres de campo e sargentos-mores, decidiu não atacar o dispositivo holandês, considerado forte e bem posicionado. Passou-se a noite em alerta, com os brasílicos inquietando os holandeses.

       No dia seguinte, 19, durante toda a manhã, sob forte sol, os holandeses permaneceram no boqueirão, imóveis, esperando o ataque brasílico que não veio. Barreto de Menezes, seus mestres de campo, sargentos-mores e o comandantes de cavalaria, o capitão Antônio Silva e Manoel de Araújo, fizeram diversos reconhecimentos no terreno. Quando, no início da tarde, entre uma e duas horas, premidos pelo cansaço e sede, os holandeses receberam ordens para descer dos morros em que estavam posicionados e se organizar para voltar ao Recife, foram alvo de um ataque, partido de diversas direções, da infantaria e cavalaria brasílica, que acometeram o inimigo por “troços, que era o modo como se peleja na campanha” (SANTIAGO, 2004, p. 545).

       O ataque começou pelos montes ao N, realizado pelo terço de Vidal de Negreiros, alguns troços (destacamentos) de Vieira e duas companhias (esquadrões) de cavalaria.  Pelos mesmos montes, pela via ao lado (“contralado dos altos por onde ia acometendo”), atacaram 4 troços de Dias Cardoso, seguidos pelo terço de Francisco Figueroa. Pelo boqueirão investiu Fernandes Vieira com o restante de seu terço, cerca de 800 homens, e pelo seu lado (“contralado do mesmo boqueirão”) atacaram os homens de Henrique Dias e D. Diogo Camarão, substituto de Felipe Camarão, falecido após a primeira batalha. Tudo indica que, aplicada a narrativa de Santiago à topografia do local, o ataque do exército patriota aos holandeses foi feito em duas direções, N-S por Vidal de Negreiros, Dias Cardoso, a cavalaria e Figueroa; e W-E por Fernandes Vieira, Henrique Dias e Camarão.    

       O ataque do N foi escalonado, ou seja, sucessivo e em vias contíguas, engajando as frações holandesas por partes, o que maximizava a vantagem brasílica das formações (troços) mais flexíveis. O ataque pelo boqueirão, de W, foi mais direto, contra sete esquadrões, ou companhias holandesas, muito embora, Fernandes Vieira as tenha acometido pelos flancos e retaguarda, chegando à artilharia que estava com elas, duas peças. A narrativa permite concluir que as formações holandesas foram, mais uma vez, penetradas pelos brasílicos lutando com espadas, e que os holandeses foram pegos desequilibrados quando começaram a se retirar. Os dois ataques, de Vidal de Negreiros e de Fernandes Vieira, convergiram na baixada, rompendo o dispositivo holandês que entrou em colapso.

       Proporcionalmente, as baixas holandesas foram ainda maiores do que as sofridas na primeira batalha. Morreu em combate o próprio Brinc, um almirante que parecia estar dirigindo a artilharia de campanha holandesa – seis peças que tiveram notável participação na batalha e foram todas capturadas – e mais de 2.000 homens, quase a metade do efetivo holandês, tamanho o pânico e fuga que se desencadeou, sem que os oficiais holandeses tenham tido condições de controlar a tropa. Foram tomadas 10 bandeiras, muita pólvora, munições e suprimentos. Do lado patriota, houve 47 mortos e duzentos feridos, indicando essa desproporcionalidade que as baixas holandesas se deram principalmente na perseguição implacável dos brasílicos ao inimigo no campo de batalha.

            A segunda batalha de Guararapes selou o destino do Brasil holandês.


[1] Trecho do livro do livro “Cinco Séculos de História Militar do Brasil: espaço, cultura, sociedade e nação” de autoria do editor-chefe do site, a ser lançado em março de 2021.