Dezembro de 1821: momento decisivo para a Independência

View of the city of Rio de Janeiro taken from the anchorage.
Views and costumes of the city and neighbourhood of Rio de Janeiro, Brazil, from drawings taken by Lieutenant Chamberlain, Royal Artillery during the years 1819 and 1820. LONDON: Thomas M’Lean, 1822.

A partida de Dom João VI para Portugal em abril de 1821 deixara o Reino do Brasil em dificílima situação. Não faltavam apenas recursos, mas também autoridade dada a limitação de poderes a que estava sujeito o Príncipe Regente Dom Pedro. Em julho daquele ano, foram quase totalmente suspensos os pagamentos do Banco do Brasil, assolado por descarada corrupção, e ocorreu um motim da tropa em Santos que provocou mortes e saque de navios no porto.

Dom Pedro enfrentava corajosamente a situação. Cercado de bons ministros das finanças, reduziu drasticamente as despesas da Corte e tomou medidas para unificar economicamente as províncias, abolindo o imposto de saída de mercadorias entre portos brasileiros e o imposto de importação da alfândega do Rio de Janeiro. Dirigia-se seguidamente à população nas ruas e a tropas amotinadas, procurando transmitir confiança e controlar a situação.

Mas, se por um lado se empenhava para exercer seu cargo de regente, por outro sentia-se desautorizado e disposto a voltar a Portugal, deixando o governo do Reino entregue a uma junta executiva.

As perspectivas eram sombrias. A tentativa das cortes de Lisboa em recolonizar o País e a anarquia que campeava nas províncias resultariam facilmente no esfacelamento político do Brasil. E nada parecia impedi-lo.  Dom Pedro, em carta a seu pai, datada de 10 de setembro, dizia que não “queria influir em mais nada no Brasil”, disposto a retornar a Portugal tão logo Dom João o determinasse.

Mas algo aconteceu. No dia 9 de dezembro, chegaram ao Rio de Janeiro, pelo brigue Infante Dom Sebastião, os decretos de números 124 e 125 que estipulavam a eleição de uma junta fluminense e a volta de Dom Pedro a Portugal. A correspondência gerou um terremoto político, precipitando os acontecimentos.

No dia 14, Dom Pedro escreveu a seu pai informando o choque que os decretos provocaram. Nos dias 20 e 22 de dezembro, foram enviados emissários a São Paulo e Minas, pedindo o apoio que o príncipe esperava das províncias para resistir às ordens de Lisboa. As respostas não tardaram. A 24, veio a famosa representação de São Paulo, a 27 a de Barbacena, Minas Gerais, e a 29 a fluminense. Na sua última carta desse ano ao pai, do dia 30, Dom Pedro podia dizer que “a opinião que dantes não era geral, hoje é está mais muito arraigada”. 

A Independência fora posta em marcha.