Dezembro de 1821: momento decisivo para a Independência
A partida de Dom João VI para Portugal em abril de 1821 deixara o Reino do Brasil em dificílima situação. Não faltavam apenas recursos, mas também autoridade dada a limitação de poderes a que estava sujeito o Príncipe Regente Dom Pedro. Em julho daquele ano, foram quase totalmente suspensos os pagamentos do Banco do Brasil, assolado por descarada corrupção, e ocorreu um motim da tropa em Santos que provocou mortes e saque de navios no porto.
Dom Pedro enfrentava corajosamente a situação. Cercado de bons ministros das finanças, reduziu drasticamente as despesas da Corte e tomou medidas para unificar economicamente as províncias, abolindo o imposto de saída de mercadorias entre portos brasileiros e o imposto de importação da alfândega do Rio de Janeiro. Dirigia-se seguidamente à população nas ruas e a tropas amotinadas, procurando transmitir confiança e controlar a situação.
Mas, se por um lado se empenhava para exercer seu cargo de regente, por outro sentia-se desautorizado e disposto a voltar a Portugal, deixando o governo do Reino entregue a uma junta executiva.
As perspectivas eram sombrias. A tentativa das cortes de Lisboa em recolonizar o País e a anarquia que campeava nas províncias resultariam facilmente no esfacelamento político do Brasil. E nada parecia impedi-lo. Dom Pedro, em carta a seu pai, datada de 10 de setembro, dizia que não “queria influir em mais nada no Brasil”, disposto a retornar a Portugal tão logo Dom João o determinasse.
Mas algo aconteceu. No dia 9 de dezembro, chegaram ao Rio de Janeiro, pelo brigue Infante Dom Sebastião, os decretos de números 124 e 125 que estipulavam a eleição de uma junta fluminense e a volta de Dom Pedro a Portugal. A correspondência gerou um terremoto político, precipitando os acontecimentos.
No dia 14, Dom Pedro escreveu a seu pai informando o choque que os decretos provocaram. Nos dias 20 e 22 de dezembro, foram enviados emissários a São Paulo e Minas, pedindo o apoio que o príncipe esperava das províncias para resistir às ordens de Lisboa. As respostas não tardaram. A 24, veio a famosa representação de São Paulo, a 27 a de Barbacena, Minas Gerais, e a 29 a fluminense. Na sua última carta desse ano ao pai, do dia 30, Dom Pedro podia dizer que “a opinião que dantes não era geral, hoje é está mais muito arraigada”.
A Independência fora posta em marcha.